Vivi a época dos anos 90. De Mazinho Loyola, Hiran, Gilmar Lima, Cleomir e outros. Época em que o rival ostentava os principais títulos do Estado. Época que marcou uma geração vencedora e deixou resquícios em um clube, atualmente, fadado ao fracasso. Eu lembro bem daquela época, dos anos 90, quando os colorados, como eu, passavam os dias de cabeça baixa. Os raros títulos de Gauchão, a Copa do Brasil de 1992, o Gre-Nal dos 5 x 2 (do eterno presidente Cacalo), permeavam os dias, meses, anos. Sobrevivíamos de migalhas, mas, sobretudo, das nossas migalhas.
Hoje, quem passa pelo período de migalhas, são aqueles que abarrotavam as capas de jornais ostentando títulos. O Grêmio. Mas veja como são as coisas. As duas únicas décadas de sucesso, do clube, em toda sua historia, o interstício de 80 e 90, que intervalaram uma biografia vencedora do clube do povo, o primeiro a aceitar atletas negros, o primeiro campeão nacional, o primeiro bi e tricampeão nacional, o clube do rolo compressor, dos, quase 70 anos ininterruptos de hegemonia, da goleada na inauguração do Olímpico. Essas duas décadas de exceção se tornaram regra no conceito dos gremistas, que, não aceitando a realidade histórica de ser o segundo clube do estado, se apegam a abordagens coloradas extra-campo, para subterfúgio de um clube defasado, ultrapassado e, muitas vezes, arrogante.
Enquanto eles pensam que o segredo da Copa do Mundo ser aqui, é por culpa da presidente Dilma, colorada, que o título mundial contra o Barcelona foi obra do acaso, que o título da América contra o Chivas foi irregular, pois os mexicanos entraram na segunda fase e não pertencem à Conmebol, que o título gaucho foi culpa dos gandulas. Enquanto os tricolores se especializam em Direito pra aprender sobre o caso Oscar, se especializam em Engenharia Civil pra aprender sobre a reforma do Beira-Rio, se especializam em reposição de bola pra aprender sobre gandulas... enquanto isso, o Inter vai empilhando títulos, corrigindo erros, trabalhando com foco, dedicação. Não há sucesso quando o foco está no rival. Porque aí a empáfia não permite que os erros sejam diagnosticas e corrigidos.
O segredo disso tudo¿ eu materializo nessa foto. A vibração das duas gerações vencedoras dentro de uma década dourada. O maranhense Clemer, o goiano Fernandão e o argentino D’Alessandro. Gaúchos e colorados de coração. As gerações que reconquistaram o respeito, a auto-estima, os títulos, e, principalmente, o coração de quem veste a nossa camisa. Assim se faz time. Assim se conquista títulos. No bom português: “olhando pro próprio rabo”.
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Tenho o imenso prazer de divulgar esse belíssimo texto do Nando que, a partir de hoje, abrilhantará o blog com seus textos de encher os olhos. Ele sempre escreverá sobre assuntos que estão fora das quatro linhas, fora dos gramados. Obrigada, Nando!
3 comentários:
Chega me dar arrepio ler esse texto, lembro da época das migalhas, de como tive que ser forte para aguentar tanta zuação dos gremistas, de como sonhava com meu time levantando um título da L.A. e de como isso parecia que nunca ia acontecer, lembro do último jogo do internacional (e talvez o único) que assisti com meu pai, deitado na sala, Dezembro de 2002 Paysando x Internacional lá em Belém do Pará, estavamos pressionados pelo resultado, pelo medo de chegar pela primeira vez ao inferno da segunda divisão, lembro do Maicon Librelato entrando de carrinho pra fazer o primeiro gol do colorado, o gol do alívio, o gol do desabafo, o gol que nos mantinha na divisão dos imortais, lembro do Fernando Baiano, exímio batedor de faltas, soltar uma bomba lá do meio da rua e acertar o canto do goleirão do papão. Vivemos de migalhas sim, mas com dignidade, dignidade de nunca subestimar ninguém, dignidade de nunca ter caído para a divisão dos mortais, dignidade de aprender com os próprios erros e de argumentar mesmo sem argumentos com gremistas recheados de títulos internacionais. Tivemos que ser fortes para nos mantermos firmes. Hoje volto pra minha terra natal onde a totalidade dos meus amigos são gremistas e não os vejo com argumentos a não ser os já citados no texto acima.
Agora tou aqui quase arrepiado e quase chorando ao lembrar da final da L.A. de 2006 onde vi os últimos 8 minutos de joelho, rezando para o Clemer fechar o gol...
Hoje somos fortes, visados e temidos como o próprio Titi (técnico do Corinthians) disse em entrevista ao ZH de hoje.
Pra finalizar gostaria de reproduzir o texto gravado em minhas costas como homenagem ao meu falecido pai, que graças a Deus me fez COLORADO...
"Eu só quero deixar para o meu filho o orgulho de ser COLORADO que herdei de meu pai"
Sensacional... amei o trecho que fala sobre as especializações estudas pelos tricolinos (risos) só que podem ficar décadas estudando, nunca compreenderam o Gigantismo Colorado, mesmo sendo nariz empinado não conseguem enxergar no alto...
Samoel, eu é que fiquei arrepiada lendo esse teu comentário emocionante. Não vivi a década de 90, talvez infelizmente, de repente saberia dar muito mais valor a cada título que conquistamos. Eu vi a tua tatuagem e fiquei emocionada só em ver. Você é um vencedor da década de 90, quando muitos não resistiam ao sucesso gremista, você estava firme e forte, orgulhoso com a vermelhinha. Te admiro, Samoel! Vocês que viveram a década de 90 merecem tudo isso. O Inter é um belíssimo recompensador. Que orgulho em ser colorada!
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