segunda-feira, 20 de setembro de 2010

D'Alessandro, que es eterno




"No dia 30 de julho de 2008, Andrés Nicolás D’Alessandro, argentino nascido em 1981, chegava a Porto Alegre para iniciar sua trajetória no maior clube desta província. Ao colocar os pés no aeroporto internacional Salgado Filho, o gringo de Buenos Aires, revelado pelo River, certamente não conhecia os próximos passos que marcariam sua reconhecida carreira no mundo da bola.
Por outro lado, o que era mais do que sabida era a qualidade do meia armador que o Inter estava trazendo. Lembro que, quando anunciada a contratação, reunido com milhares de pessoas na cidade de São João del Rey-MG, este que vos escreve e os demais viciados colorados vibraram como um gol decisivo, uma estufada das redes do Gigante num momento complicado. Parecia que as mais variadas camisetas de clubes nacionais desfiladas naquele encontro dos estudantes de História murchavam, e os torcedores que as vestiam observavam resignados nossa alegria, quase que prevendo o futuro próximo.
D’Ale só poderia pisar pela primeira vez no templo à Beira-Rio se estivesse em jogo a honra alvi-rubra, sempre exposta no bico da chuteira quando se trata de enfrentar os segundinos. Também não poderia deixar de ser numa Copa, na emoção do mata-mata. Eis o valoroso cenário a ser lembrado: 13 de agosto de 2008, greNAL pela Copa SulAmericana. O primeiro embate do segundo título continental do Sport Club Internacional. O cartão de visitas de Andrés D’Alessandro.
 É, irmãos Campeões de Tudo… recordemos que naqueles tempos o segundão da Azenha visitava as primeiras colocações do Brasileirão, sendo que, apesar da taça da Recopa, a temporada de 2007 já tinha sido um tanto desagradável para nós – sim, Román, tu é o cara! O filósofo Adenor tentava achar o “equilíbrio” e a “intensidade” ideal nas batalhas que enfrentávamos, mas a situação não era a mais adequada.
Uma das mais interessantes características do futebol, pode se dizer, é a sua dinâmica extremamente volátil, flexível. Se o ano da chegada de D’Alessandro parecia doloroso, a mágica da perna canhota do gringo ajudaria – e muito – a mudar o rumo dos acontecimentos. Para tirar os rivais da liderança do certame Brasuca, mais um clássico, mais um jogo de honra. E lá estava a canhota certeira, El Cabezón pegava na veia o rebote e mandava o ex-bom-goleiro Victor parar de espernear como o ex-amigo do Palhinha. Recordar é viver. O sensacional greNAL embelezado pelo pôr do sol no Guaíba apresentava de vez o então camisa 15, eterno legítimo camisa 10: Andrés Nicolás D’Alessandro.
 De lá para cá, domingão de véspera do feriado Farroupilha, foram 100 jogos de D’Alessandro com o manto. Tarde para cantar o hino Rio-Grandense, celebrar nossas tradições, mas também ressaltar o papel dos Lanceiros Negros na Revolução, traídos pelas nossas elites e suas promessas de liberdade através da luta contra o Império. E ainda, irmãos gaúchos peleadores, erguer a chama Farroupilha em direção ao restante do país, dizendo aos mais diversos rincões: sim, somos brasileiros! Gaúchos e brasileiros! Brasileiros e gaúchos!
Foi também uma ensolarada tarde para festejar mais uma vitória pré-Mundial. Se lembra daquela manhã de domingo? Da cara do Ronaldinho e de todos os sentimentos alimentados pela década irrisonha de 1990? Do mar vermelho nas ruas de Porto Alegre? Do silêncio daqueles que venceram o Hambúrguer e bradavam “imundos nunca ganharam de ninguém”? Pois bem, é bom nos prepararmos, porque com a ajuda dos passes, das assistências, das La Bobas, dos chutes e de todo o repertório do gringo, estaremos lá de novo, botando o terror nos Europeus.
A sensação que sentimos quando D’Ale chegou ao Inter, aquela de punho fechado e vibração, de vibrar com um gol importantíssimo, se transformou na espetacular sensação de possuir um dos melhores camisas 10 do futebol brasileiro atuando pelas bandas da Padre Cacique. Não tem mais discussão, D’Alessandro ganhou dois títulos continentais por aqui, e promete comandar nossa firme e talentosa meia-cancha nos Emirados Árabes, em Dezembro. O gringo fez sua história; o gringo decide greNAL (te prepara Renatinho duas-chiripa-no-hambúrguer); o gringo é o cara, o verdadeiro camisa 10.

Agora D’ale é 100."
-                                                                                                    (Raul Krebs, Bernando Caprara - globoesporte.com)



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