A minha infância foi uma infância agitada, assim como a de toda criança. Minha família, junto de mim, fazia tudo, menos assistir a um jogo de futebol. Minha família nunca teve intimidade com a bola – e não falo só de meus pais, falo de todos meus primos, tios, tias... Todos eles se diziam gremistas, mas eram aquele tipo de “torcedor” que nem sabiam quem é o técnico do time. Eu era uma criança normal, até então, pois criança nenhuma fica grudada na tevê chorando por um gol perdido, ou por um título que não foi conquistado. Eu fui uma criança que sempre gostou muito de vermelho, até tenho um caderno de recordações da minha quinta série em que pedia qual minha cor preferida, e lá esta escrito: vermelho. Minha mãe também adorava por em mim aqueles vestidões vermelhos, com babados enormes, um monte de ‘pindurico’. Nunca gostei disso.
O ano de 2006 pra mim, não foi somente feliz pelo Inter ter ganhado aqueles títulos, mas a minha vida dentro de mim mudou bastante. Tudo começou quando eu tinha 11 anos e o meu colégio faria uma viagem de estudos para Porto Alegre. Nessa vigem ele conheceriam os estádio do Inter e Grêmio. Justo no dia em que lá estaríamos, teria um treino do time do Inter, então eu e minha amigas começamos a nos consolidar coloradas (como já disse antes, minha família se dizia gremista, mas eu nunca torci pra nenhum time, nunca soube quem jogava em Inter nem em Grêmio). Aí comecei navegar na internet e pesquisar nomes de jogadores colorados, e acompanhar a rotina deles.
Não lembro muito bem dos fatos certos, só sei que meu primeiro jogo que eu assisti inteiro, os 90 minutos mais acréscimos, do Inter, foi Inter 1x0 Goiás. Minha mãe, é claro, estranhou meu comportamento. Depois disso, comecei acompanhar o Inter dia a dia. Assistia aos jogos e vibrava com vitórias, mas não era nada lá tão intenso. Foi então que pedi para minha madrinha uma camiseta do Inter, todos estranharam, mas ela atendeu meu pedido. Minha primeira camiseta colorada!, e eu estava mais feliz que pato em açude novo. Ela era linda, uma baby-look, justinha.
Assisti quase todos os jogos da Libertadores 2006. Não conseguia ver até o final, pois acordava as 5:30 pra estudar de manhã. Ganhamos a Libertadores, fomos para o Mundial. Naquele dia eu vesti minha camisa e torci, torci muito. Ganhamos. E ver na te vê as ruas lotadas de colorados fez-me emocionar pelo colorado pela primeira vez. Depois dessas conquistas, a cada ano ganhávamos títulos importantes: Sul-americana, Recopa, Suruga... Assisti a todos eles.
Chegando em 2009/2010, TUDO mudou. Aquilo que antes já parecia forte, hoje era muito mais. Aquilo que uma vez me fazia chorar, hoje eu já chorava mil vezes antes. Acredito que esses dois anos foram os anos que eu mais mudei na minha vida até hoje. Mudei porque saí debaixo do rabo da saia da minha mãe, e quis me tornar mais só do que o ambiente aqui de casa permitia. Mudei dentro de mim, porque aqui em casa eu NUNCA tive apoio nenhum em relação a futebol. Mudei muito. E quem me conhece bem, e conhece minha irmã muito bem, vão dizer que eu e ela somos quase gêmeas fisicamente, mas psicologicamente ou internamente nós não temos nada parecido. Nem eu e minha irmã, nem eu e meu pai, minha mãe, meu irmão... Ninguém sabe o quanto eu sofri em 2009 quando o Inter perdeu o título do Brasileirão.
Bom, vamos falar mais em 2010 que minha memória estará mais fresca. Pra mim, o ano de 2010 foi O melhor ano da minha vida, não só em termos de futebol, mas de tudo. Nesse ano eu passei a amar o Inter de uma forma que até eu achei estranho, uma forma louca. De uma forma que eu sempre sinto a necessidade de estar vendo vídeos, de salvando fotos, de estar vendo Inter, Inter e Inter pra eu estar bem. Eu digo, sem sombra de dúvidas, que se fosse oxigênio, pra mim bastaria Inter, Família e Amigos pra sobreviver. Só. E agora, com a conquista da Libertadores, eu amo mais ainda tudo que eu amava loucamente. Eu amo cada fiapo de grama que tem no Beira Rio, eu amo cada tijolinho que lá foi colocado, eu amo cada fração de metros quadrados do Gigante, eu amo aqueles caras! Eu amo aqueles caras que tem a competência de sentir o peso que tem a vermelhinha e de trazer resultado pra nós colorados comemorarmos. Eu amo aqueles caras. Eu sinto que eu amo e preciso disso tudo assim como eu amo e preciso necessariamente da minha família, de água, de comida, de ar, de amigos...
Essa noite sonhei com o D’alessandro, e quando eu acordei eu chorei, chorei pra caralho. Chorei porque eu me sinto inútil. Chorei porque eu não tenho apoio da minha família pra mim fazer uma das coisas que eu mais gosto nessa vida: ver futebol, chorar pelo Inter e conhecer meu amores. Chorei por eu não poder morar ao lado do meu Gigante da Beira Rio. Chorei por eu ter sonhado a noite inteira com o D’alessandro, e por eu ter sido feliz a noite intera... mas eu acordei. E junto de meus olhos se abrindo, se foi a minha alegria de poder ter conhecido um dos meus maiores ídolos, um dos meus maiores amores.
Alguns me chamam de louca, de doente, mas eu estou ciente de que isso é amor. É uma loucura que eu quero, mas eu não consigo transformar em palavras. Eu amo aqueles caras, eu queria conhecer aqueles caras e dizer a eles o quanto eu os amo. Eu não quero que eles me amem, eu quero amá-los e quero ter meu amor reconhecido.
Um dia que eu nunca irei esquecer foi o dia em que teve gerNAL aqui na minha cidade, Erechim. O estádio era o Colosso da Lagoa, no centro, a uns 10 minutos daqui de casa. Era no comecinho desse ano, e eu estava louca pra ir. Já tinha me informado sobre ingressos, lugares. Mas na hora H meus pais não quiseram que eu fosse sozinha, porque a torcida num greNAL sempre impõem um pouco de falta de segurança. Eu iria sozinha, eu dormiria no concreto duro do Colosso da Lagoa só pra ver meu colorado jogar. Podia perder de dez a zero, mas eu estaria feliz por vê-los jogando, ver com os meus olhos, ao vivo e a cores. Nunca assisti a um jogo do Inter no estádio, mas não por não ter condições. Levo uma vida muito boa e tranqüila, mas por... por falta de apoio, por falta de incentivo.
Outro episódio marcante foi o jogo de São Paulo x Inter no Morumbi. Aquele dia eu testei os meus limites nervosos, eu sentia cada terminação nervosa do meu corpo sendo abalada pelas minhas emoções. Eu passei o jogo inteiro caminhando de um lado pro outro, inquieta. E quando eu tentei tomar água no copo, desisti. Minha mão tremia tanto que o copo batia em meus dentes e a água caia, mas não em minha boca. Reconheço que fui muito forte naquele jogo, jamais tinha passado por uma situação de tamanho nervosismo.
O dia em que ganhamos a Libertadores foi a melhor sensação que já tive, isso tudo se resume em dois textos meus: O Sonho do dia 18 de agosto 1 e 2.
Eu só sei que muita coisa na minha vida se resume a Inter, e eu amo extremamente essa parte da minha vida e sou eternamente grata a quem eu tenho que agradecer por ter me tornado colorada. Eu fiz esse juramente ao meu Inter, e jamais irei decepcioná-lo. Irei apoiar e torcer até que as minhas forças se acabem, só que quando eu vir que minhas forças acabaram vou sentir que ainda posso dar mais um pouquinho de mim. E é isso que sempre fiz, e continuarei fazendo pro resto de meus dias vermelhos...
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