Agora ficou claro, agora ficou lógico. O próprio destaque como melhores do mundo conquistado pelo Barcelona e pelo Ronaldinho fazia parte da preparação para o nosso 17 de dezembro, que não teria o mesmo gosto épico se o adversário fosse outro. Tudo era armação para aumentar o brilho e o drama do nosso momento máximo. Tudo se encaixava. Ou você pensa que a saída do Pato e do Fernandão foi obra do acaso, esse autor sem imaginação? O resultado de veio sendo construído aos poucos, desde antes da fundação do Internacional, antes de Pedro Álvares Cabral, antes de Homero e das Pirâmides.
E eu sabia que havia uma justificativa histórica para o topete do Gabiru.
Há dias a leitora Poliana Lopes me lembrou de um texto que eu tinha escrito, e esquecido. Ela teve a gentileza de me mandar o texto, e eu peço licença para repeti-lo agora. Era assim:
"Meu caro colorado. Desculpe esta carta a céu aberto, é porque não sei nem seu nome nem seu endereço. Na verdade, só vi você na rua, de mãos dadas com seu pai e cercado pelos seus irmãos, que vestiam a camiseta do Grêmio (suponho que fossem seu pai e seus irmãos). Você estava com a camiseta do Internacional. Quase parei o carro para olhar melhor, mas não era miragem. Você tinha uns quatro ou cinco anos e estava de camiseta vermelha! Seu pai vestia uma camisa branca exemplarmente neutra, mas posso imaginar como tem sido a sua vida em casa. As provocações, os petelecos, a flauta, o martírio. E lá estava você de camiseta vermelha, o antigo escudo orgulhosamente no peito, desafiando todas as provações. Não sei se você sabe que vários colorados da sua geração não agüentaram e trocaram de time. Levaram pais e avós ao desespero, mas não suportaram a pressão do sucesso gremista. Você agüentou. Você não sabe, mas é um herói. E fiquei pensando que, quando for a nossa vez de novo, teremos certamente a torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil. Porque será a torcida dos que resistiram. Agüente só mais um pouco. Meus respeitos."
Mas isto tudo também pode ser um sonho.
Se for, por favor: não me acordem.
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