Libertadores: Inter 1x1 Santos
A vida do Inter, nos seus 103 anos, foi muito parecida com esse jogo: sofrido, brigado, pegado, com sangue nos olhos. No dia 4 de abril de 1909 nascia em Porto Alegre o clube que daria sentido a vida de uma nação, que traria alegria aos tristes, saúde aos doentes, riqueza espiritual para os pobres e que mesclaria ricos com pobres, homens com mulheres, crianças com idosos, negros com brancos. Nascia ali um clube que aceitaria todas as pessoas de braços abertos sem preconceito algum, aliás, abriu as portas pra todas as pessoas com esse fim: acabar com preconceito.
Em 2010, quando o Inter jogaria a partida de ida da Libertadores da América contra o São Paulo no Beira-Rio, foi proibido os sinalizadores nos estádios. Inteligentemente, a torcida usou os sinalizadores fazendo um corredor de fogo. Nessa quarta-feira, contra o Santos, o corredor de fogo que levava os jogadores até o estádio foi muito maior. Milhares de torcedores fizeram Porto Alegre virar em chamas vermelhas. O clima dentro do estádio não era diferente, 39 mil pessoas lotaram todos os espaços possíveis do Gigante da Beira-Rio.
O jogo começou com olhares tensos, nervosos, concentrados. O Inter sem três dos seus principais e mais fortes olhares: D’alessandro, Guiñazú e Oscar – e eles fizeram muita falta. Dorival Júnior, apesar dos desfalques insubstituíveis, montou a equipe de forma perfeita e inteligentíssima. O jogo era truncado, o Inter fazia marcação inquestionável, Neymar não conseguia jogar. Alguém marcava o garoto santista e outro ficava na sobra, raras foram as vezes que ele conseguiu arrancar.
O Inter mostrou a força do grupo e do Beira-Rio logo aos 8 minutos... um alento para a torcida. Num falta, Nei bateu no peito e disse que era ele quem cobraria. Olhando fixamente para a bola, o careca partiu e chutou. A bola passou muito longe da barreira, foi descendo, foi descendo e acabou no ângulo do goleio Rafael, que nada pôde fazer. GO-LA-ÇO! Nei corre, sente o calor da torcida e bate com toda força no escudo da camisa. Alguns minutos depois, Kleber chegou na ponta da área e chutou, Rafael se esticou todo, mas a bola passou pertinho da trave.
Numa das raras vezes em que Neymar conseguiu jogar ele tocou para Ibson livre dentro da área, que chutou e Muriel, sensacionalmente, fez uma defesa espetacular. O Santos teve mais posse de bola, porém, não conseguia furar a forte marcação do Inter no primeiro tempo. Na segunda etapa, aos 17 minutos, Neymar arrancou e chutou no cantinho, Muriel se jogou e agarrou. Dois minutos depois, após uma pressão santista, Alan Kardec subiu mais alto e cabeceou, Muriel não teve o que fazer.
Jajá havia acabado de entrar e recebeu a bola, de primeira, um canhotaço para o gol. Rafael fez a defesa de salvação do Santos. Nos minutos finais de jogo, o lance mais perigoso partiu do Santos, Neymar entrou na área e chutou à queima-roupa, Muriel iluminado fez uma defesa quase impossível. Ele ainda tenta pegar o rebote, mas a zaga colorada afasta. Ainda havia tempo para Moledo ser expulso por falta dura.
Obviamente um empate em casa nunca é bom. Pesando as circunstâncias não foi tão ruim assim: Inter sem D’ale, Guiña e Oscar (ou seja: Inter sem o meio campo que cria) e Santos com o que tinha de melhor. Sandro Silva fez a melhor partida com a camisa do Inter. Foi inteligente, armou jogadas, deu lençol, caneta – antidoping no cara!. Os dois verdadeiros destaques do jogo foram Muriel e Tinga. O primeiro defendeu quase tudo. Se não fosse ele tínhamos perdido em casa, sem dúvidas. O segundo chamou a responsabilidade para si, organizou o time, ajudou o Dorival a fazer a escalação, chamou as jogadas, criou, defendeu, marcou, buscou o gol, correu feito doido em todos os setores do Inter, saiu no final do segundo tempo por que não conseguia parar em pé. Tinga é o verdadeiro exemplo de que o Inter foi um time heroico, foi aquele time com espírito pra ser campeão. Eu não vi isso no Inter de 2011, mas vi no Inter de 2010 e no Inter de quarta-feira. Nei fez um gol de fora da área na Libertadores de 2010 e fez gol de fora da área na Libertadores 2012. No final de tudo isso veremos se é apenas uma coincidência ou esse gol do careca quis dizer-nos alguma coisa.
Quando um time joga uma Libertadores e sua torcida enche o estádio, faz uma festa tão linda quanto a que a torcida do Inter fez, e quando os jogadores entram com a vontade de vencer como a que os jogadores do Inter tinham, esse clube tem muitas chances de ser campeão. Eu vi espírito de campeão na equipe do Inter. Tomara que isso dure até levantar a taça!
AVANTE, INTER!
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